Análise do filme: A Baleia

O nome do filme faz menção ao clássico Moby Dick escrito por Helman Meville, no qual Ellie, interpretada pela atriz Sadie Sink e filha do Charlie (Brendan Fraser), escreveu sobre o tema.

Todas as cenas do filme se passam dentro da casa do personagem principal, em um cenário de cenas repetidas e conta a história de Charlie, um homem que tem obesidade. 

Charlie é professor e dá aula online em uma universidade. Por conta da obesidade (grau 3) tem uma vida bastante limitada, nunca sai de casa, dá aulas com o vídeo fechado, tem apenas uma amiga, Liz, e busca se aproximar da filha, Ellie.

No início da vida adulta Charlie foi casado com Mary, época em que sentia que estava em um momento estranho da vida, talvez nessa fase já tivesse dúvidas ou se sentisse confuso quanto a sua orientação sexual. 

Teve uma filha, Ellie, e quando ela completou 8 anos de idade, Charlie se separou, ficou 9 anos sem ver a filha e só voltou a vê-la quando ela já tinha 17 anos de idade. 

Charlie se apaixonou por um de seus alunos, Alan e irmão de Liz. 

Charlie que estava recém separado e Alan iniciaram um relacionamento, Alan tinha uma relação difícil com seu pai. Pouco tempo depois foi encontrado morto em um rio. 

O namoro não durou muito tempo e após a morte de Alan, Charlie se fecha para a vida, tornando-se um homem cada vez mais solitário. 

As coisas começam a ficar mais complicadas por conta do luto pela morte de seu companheiro, mas aqui, vou me ater às questões relacionadas à obesidade. A partir daí, Charlie usa o alimento como única fonte de prazer, e esse comer compulsivo é um sintoma em relação aos traumas vivenciados no passado.

Se pensarmos nos conceitos de Freud sobre compulsão à repetição e pulsão de morte, podemos perceber que a forma compulsiva e caótica de se alimentar de Charlie visa aliviar suas tensões e retornar a um estágio de bem estar, mas o que ele consegue é justamente o contrário, evidenciando o real e a ação da pulsão de morte. Então repete comportamentos nocivos, cada vez mais se aproximando da morte.

A comida que dá a falsa sensação de alívio, está presente nas situações angustiantes e também nas frustrações, decepções e dificuldades diárias. Come compulsivamente, repetidamente.  Liz colabora para uma alimentação desregrada, pois sempre fornecia comida em grande quantidade e por conta do ganho de peso ao longo dos anos, Charlie era portador de sérias comorbidades, tinha insuficiência cardíaca, hipertensão, falta de ar constante e passou a não ter mais autonomia para caminhar. 

A obesidade também é um sintoma, algo que o impede de suportar esse real que é da ordem do insuportável. A obesidade, o impede de retomar a vida e seguir em frente. 

Certamente após a morte de Alan, tudo se intensificou, recorrendo sempre a comida como fuga. 

Liz, apesar de fornecer comida de maneira desregrada,  cuidava de alguns ajustes em relação a saúde dele, média pressão, ministrava os medicamentos e inclusive conseguiu uma cadeira de rodas para que Charlie se movimenta um pouco melhor, tentava fazer com que ele fosse a um hospital, mas ele nunca quis, sabia que estava no fim da vida e seu maior interesse era se aproximar de sua filha Ellie, enviava e-mail pedindo que ela fosse visitá-lo e ela o fez, embora fosse uma garota rebelde, com dificuldade no relacionamento com a mãe, escolares, e na relação com o pai, no fundo tinha o desejo de entender porque ele a abandonará aos 8 anos de idade, era assim que ela se sentia, abandonada pelo pai. 

As únicas pessoas que Charlie tinha contato, eram Liz, Ellie, Thomas, o garoto que o visitava com o interesse de ajudá-lo (mas a história de Thomas é um caso à parte) e o entregador de pizza, Dan, que fazia a entrega quase diariamente.

Charlie aos poucos foi se aproximando de Ellie através das conversas e mesmo quando não tinha contato com ela, a acompanhava à distância, conhecia sobre um poema que ela tinha escrito sobre a baleia Mobi Dick, e sempre lia esse poema quando se encontrava em dificuldades, sentia que o acalmava, talvez a forma que encontrou para se sentir perto da filha. 

O episódio de compulsão alimentar se deu quando Dan, em uma das vezes, fingiu ir embora e esperou Charlie aparecer para pegar a pizza. O comportamento de Dan reforça o estereótipo de aversão às pessoas obesas, então ao ver Charlie a impressão que dá é que ele o rejeita, a única coisa que diz é: Meu Deus! e sentindo-se rejeitado, tem um episódio de compulsão alimentar, comer em um curto período de tempo, muita comida, entre salgado, doce, molho, come indiscriminadamente até perder o controle, se sentir mal e vomitar. 

Em um determinado dia Ellie vai visitá-lo e percebe que seu pai está muito mal, pergunta a Liz o que ele tem, que responde que ele está morrendo. Fica sozinha com o pai, que pede para que ela leia o clássico da Moby Dick, ali, na iminência da perda definitiva do pai, Ellie fica um pouco mais, lê o texto ao pai que rememora um momento que estava na praia com a filha, ela brincando na areia, e ele caminhando em direção ao mar sentindo a água nos pés. 

Sobre a obesidade:

A obesidade é uma doença crônica. Até 2025 estima-se que aproximadamente 2.3 bilhões de adultos estejam acima do peso, desses 700 milhões com obesidade, portanto IMC (índice de massa corpórea) acima de 30, e se o indivíduo estiver com comorbidade é um forte indicativo para cirurgia bariátrica. 

Fonte: ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica

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